O CONTROLE DO ESPAÇO DO SERTÃO: OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DO CEARÁ NA SECA DE 1932

Autores/as

  • Leda Agnes Simões de Melo LASM Programa de Pós Gradução em História Social da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.18223/hiscult.v9i1.3139

Resumen

Este trabalho visa compreender a feitura dos campos de concentração do Ceará, implementados pela Inspetoria Federal de Obras Secas (IFOCS) na seca de 1932. O que nos interessa em específico é entender essa medida por meio do controle e domínio do espaço do sertão. Podemos pensar também como ainda, neste contexto, os sertões eram vistos como áreas “atrasadas” em que pesava sobre eles a necessidade de que se avançasse uma sociedade “moderna” e “civilizada”. E essas visões estão relacionadas a um modelo de sociedade em que ainda imperava o que Walter Mignolo conceitua como “legados coloniais”. Nesse sentido, refletiremos como esses “legados” podem ser um caminho epistemológico possível para analisar o controle do espaço por meio dos campos de concentração.

Biografía del autor/a

Leda Agnes Simões de Melo LASM, Programa de Pós Gradução em História Social da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Social da Escola de Formação de Professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FFP / UERJ). Mestre no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA / UFRRJ), em 2015. Bacharel e História em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2011. Ênfase na área de Brasil República e História da Argentina no século XX. Bem como, sobre a América Latina. Maior atenção ao estudo do campo das análises e representações dos discursos. Enfoque principal em estudos sobre o nordeste do Brasil e o noroeste da Argentina.

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Publicado

2020-07-06